Fortuna Critica

Realidades ocultas sob as aparências



Eduardo Lanius
Jornal do Comércio (Porto Alegre, 25/03/2008)

Olhos de morcego (7Letras, 108 páginas, R$ 27,00), de Leonardo Brasiliense, é a reunião de histórias curtas posterior a Adeus conto de fadas, detentor dos prêmios Jabuti e Açorianos de Literatura Infanto-Juvenil, e Livro do Ano, da Associação Gaúcha de Escritores (AGEs). O volume, que tem sessão de autógrafos às 19h desta terça-feira, na Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country (Túlio de Rose, 80), porém, não decepciona a quem já leu o antecessor ou conhece a trajetória pregressa do autor nascido em São Gabriel, em que aparecem Meu sonho acaba tarde (2000) e Des(a)tino (2002), ambos de contos, e também o ensaio O desejo da psicanálise (1999). Olhos de morcego, aliás, parece referendar o nome de Brasiliense como um dos narradores mais interessantes da geração literária contemporânea do Rio Grande do Sul, juntamente com Cíntia Moscovich, Monique Revillion e Michel Laub, entre outros.

A epígrafe, retirada de Aristóteles, fornece uma pista do ambiente em torno do qual as tramas gravitam: “Assim como os olhos dos morcegos reagem diante da luz do dia, assim também a inteligência que está em nossa alma se comporta diante das coisas que, por sua natureza, são as mais evidentes.” No conjunto, os dez contos enfeixados no livro tratam de situações pelo menos na aparência cotidianas, mas que, nas mãos do escritor, revelam reviravoltas surpreendentes. É o caso de O beijo, em que camadas subterrâneas desvendam mais do que a jornada diária de um taxista, O peão, em que um menino do campo precisa crescer à força de combater um ser fantasmagórico que o vem assombrar, ou Fim dos tempos, sobre um homem preso sob a acusação de estupro e acossado por populares em uma delegacia – neste último, sobressaem também elementos de humor e ironia.

 

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